Comunicado contra o racismo

De Charlottesville a An Nabi Saleh
De Paris à rua de Shuhada em Hebron
De Exarchia, Cova da Moura à estação de um autocarro da STCP no Porto
Alexis, Rémi, Élson, Antonino, Tiago, Nuno, Álvaro, Flávio,
José, Igor,
Nicol Quinayas, uma noite de São João no Porto

Por toda a parte sentimos o fedor da xenofobia e do racismo entre outras pestilências. Quer sejam militares, polícias, seguranças ou grupos de extrema direita, o que permite as agressões, violências e mortes encontra-se nos dispositivos do Estado, quer sejam instituições, quer sejam práticas, decisões ou alinhamentos políticos. São forças que constituem os braços armados da consolidação de uma ideolo-gia euro-centrista proteccionista e racista. Cada vez que se fecham ou protegem fronteiras, como se operigo viesse de fora, cada vez que se constroem muros, cada vez que se apontam dedos a uma comunida-de, um grupo social étnico ou religioso alimenta-se a pequenez sórdida do medo, engorda-se a crueldade, instala-se a nudez da desumanidade. O maior perigo reside nas fronteiras que nos cercam, nos murosque se constroem, no arame farpado que nos amordaça a humanidade.
A fronteira entre a pertença numa geografia comum onde se partilham espaços, culturas, línguas, linguagens e práticas e a identidade nacional onde se partilha um pedaço de papel que nos situa dentro de linhas fictícias, uma língua, uma cultura, antepassados, não é ténue mas facilmente conduz a excesso.O mesmo sistema que garante democracia, formula leis e permite práticas repressivas, discriminatória e violentas. A própria noção de Estado estabelecido dentro de fronteiras constitui o primeiro atrope-lo  à liberdade do ser humano, não é, e nunca foi garante da segurança.
Não podemos deixar que a nossa humanidade seja soterrada por uma hipotética perda, que seja aniquilada pela propaganda que conforta o medo de perder algo que nunca fora nosso para começar, ou a ilusão de algo que não nos pertence (se é que nos contentamos com as migalhas do capitalismo), que seja abafa-da pelo receio de uma autoridade de insígnia, às ordens dos poderosos, que nos aterroriza. O terror não é a preta, a cigana, a síria, a palestina, em suma tudo o que é Outro, mas a nossa cobardia em soltar o que sabemos ser justo. Não é o sermos diferentes que deve meter medo, mas o moldarem-nos para sermos ou fingirmos que somos todas iguais. Isto sim é assustador, nem que seja porque seríamos inca-pazes de nos reconhecer.
Ultrapassando cores, aparências e feitios, de Bagdad a Bogotá, a mesma humanidade, aquela da mão que se estende espontaneamente quando alguém está prestes a cair. A nossa humanidade não cabe no endereçopostal, num selo estampado com data e hora. A nossa humanidade não se limita a um país, uma cidade, vila, aldeia, lugar ou lugarejo, nem tem cor, sexo, classe ou religião. A nossa humanidade é o apoio  mútuo, a livre associação. A nossa humanidade é liberdade.

Porto, 15 de Setembro de 2018
GAP - Grupo Acção Palestina
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GERA - Grupo Erva Rebelde Anarquista
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