Comunicado Marcha pelo clima

Por uma comunidade de partilha

O capitalismo subiu mais um degrau da escada da loucura, aproxima-se agora do ponto de 

não-retorno, e ameaça não apenas o seu fim, mas o fim de toda a humanidade.

A passagem do norte aberta para sempre não é uma nova oportunidade de negócio.

O mundo em chamas, o avanço dos desertos, a terra ressequida e estéril, a fome e as migrações forçadas, cada vez mais ilhas a ficar submersas, este é o retrato atual de um planeta sobre o qual paira cada vez mais palpável a ameaça de catástrofe global para a espécie humana e muitas outras espécies cujo habitat se vê a degradar-se a um ritmo galopante.

O desmatamento das florestas (com a Amazónia em particular) para os negócios da madeira, a criação de gado ou da soja para alimento deste ou para a produção de combustíveis ditos alternativos, a insistência em manter um estilo de vida predador e que leva à exaustão de todos os recursos, força-nos a refletir sobre o que verdadeiramente está em causa.

Por mais loas que se cantem ao progresso e desenvolvimento, o que vemos, por todo o lado, não é a preocupação com o bem-estar e a vida livre das pessoas e de todos os animais, não é o cuidado para preservar a natureza em todas as suas manifestações, mas apenas a artimanha grosseira para através de todos os embustes – a publicidade, o amestramento embrutecedor e uniformizante, a insensibilização face ao desastre global –, continuar a encher os bolsos das grandes companhias e apontar esse caminho como modelo único de relacionamento entre as pessoas, sem lugar para a cooperação, a autonomia, a igualdade e uma frugalidade natural e feliz, imposta pelo gosto e a racionalidade.

Pelo contrário, o modelo vigente transforma a vida no planeta numa batalha em que os mais fortes cada vez impõem mais a desigualdade e a coação, semeando a fome e a desesperança, quando não usando os pobres como forças de choque que se lançam umas contra as outras deixando sempre incólumes os senhores do dinheiro e do poder.

Todas as medidas são bem-vindas para preservar a vida na Terra e para se opor ao aquecimento global, mas a solução não está num novo ambientalismo capitalista, que reproduza de forma mais macia todas as taras da sociedade atual, mas sim e sobretudo em todas as medidas tomadas pelas populações espoliadas para se oporem aos poderes que determinam o rumo da Terra, construindo em vez das dominantes sociedades suicidárias atuais, comunidades horizontais de partilha, natural e visceralmente amigas do ambiente. Só assim não correrão velozes e sem retorno os dias que nos faltam até à morte global do mundo como o conhecemos.

Porto, 8 de setembro de 2018 

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