EDITORIAL Nº ZERO: Entre placidez e arrepio, eppur si muove!

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Entre placidez e arrepio, eppur si muove!

Quando acordamos, já o Mundo deu várias voltas com elipses de notícias a girarem em sound bites que se propagam, partilham, comentam, ou não. Por terras da América Central, apesar da corrupção corrosiva e mortífera, cuja mais recente expressão levou à morte de cartoze jovens estudantes de Ayotzinapa, todos os sub-comandantes do movimento zapatista desafiam as regras, derrubando a noção rígida de líder, re-inventam formas de lutas e de vivências, continuando a construir caminhos onde educação e apoio mútuo se interligam. Pela América do Sul ecoam zumbidos de um fascismo reminiscente. Nos EUA, enquanto cada Estado federado faz, formula e aplica as suas leis internas, D. Trump entrou na corrida da irremediável e famosa dicotomia da alternância, com consequências frequentemente nefastas para o resto do Mundo. O Médio Oriente continua a ser um lugar onde as ingerências do Ocidente prejudicam os povos. Mas também aqui, como em Rojava, surgem outras formas das pessoas se organizarem e viverem. Entretanto, pessoas tombam, são assassinadas, deslocadas ou retalhadas às portas das fortalezas das democracias representativas.

Por estas terras europeias, quando viramos a cabeça surge a sensação premente de mais um engano, mais uns sofrimentos, mais umas injustiças… Adormecemos ao som angustiante das decisões já tomadas sem sabermos ao certo como e porquê. Quando acordamos, já o mundo é demasiado velho para aguentar o nosso questionamento genuíno, sem nos sentirmos totalmente ultrapassadas.

Se por esta finisterra, as decisões de um governo cessante ou as trapalhadas com os bancos nos deixam sem palavras, mas com um sabor cada vez mais amargo na boca, por terras gaulesas, depois dos atentados e da instauração do estado de emergência, a população francesa despertou, numa primavera chuvosa, para sacudir uma lei laboral que curiosamente se enquadra perfeitamente nas negociações secretas iniciadas em torno do Tratado Transatlântico (o comummente chamado TTIP). Por terras da vizinha Hispânia, o governo procura conservar o direito através de leis repressivas aplicadas às manifestações, reuniões, liberdade de expressão e registo de imagens. Estas leis constituem uma violência contra o povo, mas claro, Walter Benjamin, na sua Crítica da Violência, já nos disse que “ Toda a violência é, enquanto meio, ora fundadora, ora conservadora de direito.” E, isto confirma o que Derrida afirmou, em Força de Lei, “ O Estado tem medo da violência fundadora, isto é, capaz de justificar, de legitimar ou de transformar relações de direito, e portanto de se apresentar como tendo um direito ao direito”.

Estaremos, então, a presenciar de forma mais ou menos evidente o medo de certos Estados?